quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Experiências de trabalho (1)


De vez em quando irei descrever algumas experiências profissionais que tive e lições que aprendi aqui no blog, sem ordem cronológica. Ai vai uma delas:

Anos atrás eu estava procurando emprego e consegui um de "Analista blábláblá" em uma empresa de um parente da minha esposa. O cara era um dos empresários mais ricos da cidade e o clima da empresa era muito bom, não posso reclamar, além de aprender com o patrão, que era um guru de finanças e administração, eu era bem quisto porque gostava de ajudar em todas as áreas da empresa e resolver problemas.


Desde o primeiro dia combinamos o salário: R$ 1000,00, que com descontos ficava em cerca de 800 reais líquido. Eu precisava da grana e ninguém me devia nada, aceitei e fazia minha parte: poupar quase tudo.

Eu trabalhava bastante, pegava dois ônibus ou caminhava cerca de 3km a pé pra chegar e ir embora. Fazia algumas horas extras e até participava de uns eventos toscos pela cidade em nome do diretor da empresa sem ganhar nada com isso.

Não esqueço de algo que ouvi em uma reunião, que era para os vendedores usarem o argumento racional de que as pessoas gastam mais de 100 reais por final de semana em cerveja mas achavam caras as prestações do bem que vendíamos, que era patrimônio, e isto não fazia sentido.

Além disso, almoçava na empresa pois ela ficava longe de tudo e dava almoço baratinho para os empregados. Posso dizer que a qualidade de vida do brasileiro é seriamente comprometida por este detalhe. Ter que ficar na região da empresa durante o horário de almoço sem fazer absolutamente nada até o turno da tarde começar, sentado em algum chão duro sentindo calor ou frio é o que faz as pessoas se desesperarem e fazerem concursos pra trabalhar como caixa de banco. Sempre vejo pessoas sofrendo por aí neste horário e consigo compreender o que elas passam.


Horário de almoço.

No começo eu me vestia "bem", tinha energia e até consegui impressionar com a qualidade do meu trabalho, pois por sorte todos os que ocuparam a vaga em que eu estava nem tinham noção do que devia ser feito. Além disso organizei todos os processos do meu cargo, tornando minha rotina mais fácil, e passava meu tempo livre percorrendo a empresa para melhorar qualquer coisa.

Sempre que trabalhar em algum lugar, modifique tudo para melhor ao seu redor. Se não for possível, pelo menos mude a mesa de lugar.

Na verdade eu praticamente reestruturei o setor de blábláblá da empresa que estava abandonado e estava sendo executado inteiramente pelo diretor da mesma até eu chegar lá. O patrão estava muito feliz por pagar mil reais (mais um monte de imposto) pelo meu trabalho porque eu era excelente em compras e os caras anteriores só mandavam comprar sem orçar nada.

A empresa lucrava centenas de milhares de reais por mês, e a esposa do chefe gastava mais de 10k mensalmente em roupas que nunca usava e doava (nunca tinha visto algo assim, eu não gastei 10k em roupa nos últimos 10 anos). Isso não me deixava brabo pois cada um faz o que quer com seu dinheiro, na verdade isso até me deu força pra um dia ser tão rico quanto eles.

O tempo foi passando e fui desenvolvendo as estratégias do setor. Tinha um cara ali perto que trabalhava em outra área e era bem medíocre, porém ele apresentou um controle que todo mundo da área dele deveria ter mas não tinha. Como o chefe precisava de um gerente pai de família ao invés de um garoto, escolheu este cara da noite pro dia pra mandar em mim e isso me enfezou muito, pois ele roubava descaradamente minhas soluções. Ele chegava a me perguntar como fazer coisas, e em um minuto atravessava a sala pra falar (tenho um ótimo ouvido) "chefe, pensei em tal coisa..." E o chefe elogiava o cara, isto sim me deixava puto da cara.


Como eu agia (quando chegava em casa).


Outra coisa que o cara fazia era sugerir absurdos em que não existia capacidade técnica para se fazer e quando eu argumentava, ele levava pro chefe as minhas exatas palavras como se fossem dele. Todo mundo em volta assistia isso e também achava escroto.

Isto acontece em qualquer lugar, mas a medida em que ocorria lá era absurda quando se ganha mil reais.

No fim já estava se instalando um clima de eu ser um rato e o cara o fodão que me mandava, pois ele começou a usar meus próprios argumentos na minha frente mesmo pra salvar seu couro quando eu fazia do jeito que ele me obrigava a fazer as coisas, e isto considero inadmissível.

Depois de vários meses como escravo, fui falar de aumento com o chefe, que me ofereceu uns 200 reais os quais resolvi nem aceitar e pedi demissão. O patrão até me deu uma carta pessoal de recomendação e um contato em outra empresa, algo muito difícil no mundo corporativo.

Coincidentemente nesta época estavam instalando um sistema novo super difícil de coroas usarem. Arrumei um substituto pro meu lugar (apesar de ter um setor vagabundo de RH, quem analisava currículos e conduzia algumas entrevistas era eu), passei as funções e desapareci de lá, deixando o gerente totalmente com o cu na mão. Jamais vou esquecer da cara dele e das imploradas pra que eu não fosse embora naquele momento.

Gerente bundão falando comigo.


Aquele foi um dos momentos em que eu olhei à minha volta e me deparei com uma das duas opções: ficar igual a todos naquela sala, com seus respectivos salários estagnados a anos, ou ir embora. O resultado dessa decisão é de longo prazo.

Não recomendo que ninguém saia largando o emprego por ser maltratado, isso faz parte de qualquer cargo de empregado e talvez o maior bem nos próximos anos por aqui vá ser justamente estar empregado. Recomendo que se fuja de qualquer emprego onde se esteja perdendo tempo na vida, por isso é importante parar todo ano e fazer uma análise de onde você se encontra e do que fazer pra chegar onde quer (minha teoria é que as pessoas são ensinadas a serem proto-fracassados pela mídia e pelo sistema de educação).

Tem uma coisa que me dou ao luxo (pelo menos pude até hoje) de nunca aguentar na vida: Ficar dependente de um emprego. Não posso falar pelos outros, pois não tenho dívidas, filhos, etc, mas creio que no momento em que você fica dependente de seu emprego é game over. O espiral vai te sugar e você vai desperdiçar sua vida dia após dia!

Até a próxima.


13 comentários:

  1. Sei lá, eu tento trabalhar direitinho, mas não consigo ter tanto amor ao trabalho assim. Acho que na minha carreira eu agi como uma puta, o que pagar mais me leva.

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    1. "E como uma puta ela disse, nada é de graça." eheheehe

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    2. Baiano, eu ri muito, mas o assunto é sério demais. Como somos massacrados, isso me revolta.

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  2. Este post descreveu boa parte da minha vida com algumas ressalvas, depois de tanto errar aprendi com a experiência.
    O primeiro erro clássico: Querer ser eficiente além das funções ao qual fui designado para desenvolver, chegando a um ponto que excesso de funções me acarretou a uma baixa qualidade de vida.
    Depois de cometer erros clássicos que qualquer pião sem escolaridade comete em inicio de carreira.
    Aprendi por vivência: Ser eficiente apenas nas tarefas designadas para minha função, ser discreto e não revelar particularidades da vida pessoal, em fazer tudo que o chefe manda sem questionar, mesmo que ideia proposta seja um absurdo e completamente equivocada.
    A fazer tarefas ao qual fui designado para exercer sem esperar nada em troca, como aumento de salário, bonificações etc.
    Aprendi também a desenvolver espírito libertário ao longo dos anos de aprendizado.
    A pensar independentemente de empresas.
    A gerir recursos como uma empresa.
    A selecionar amizades por perfil psicológico e intelectual.
    No ultimo emprego apliquei todas as regras de condutas anteriores, fui explorado como todo trabalhador em sub empregos , mas ao contrario de muitas pessoas que se fazem de vítimas do sistema ganhando 6 mil reais por mês" Faz me rir" e fazendo serviços realmente ridículos,criticando a sociedade como adolescente rebeldes.
    Vivenciei situações extremas,absurdas e sobrevivi a todas com apenas um objetivo em mente, sair daquela situação ao qual me encontrava durante alguns anos, apliquei toda teoria proposta anteriormente estipulando metas, valores, até mesmo o tempo em que exerceria minha função na empresa foi pré determinado, conforme bati algumas metas estipuladas anteriormente, me libertei da dependência psicológica daquele oficio.
    Entrei na empresa ganhando 700 reais sai ganhando 1000 líquidos, porem com mais de 40 mil em economias.
    O principal aprendizado que obtive no período: Não levar desaforos do serviço para casa, foi difícil no inicio, porem conforme aumentava minhas economias, me sentia cada vez mais livre ao ponto de não ter peso nenhum em minha mente,sabia que adiante toda liberdade conquistada pelo capital me daria tempo suficiente para aprender novas habilidades expandindo meu capital e ganhando em qualidade de vida.
    O principal ensinamento que obtive com a experiência de todos estes anos de subempregos: Nunca espere nada de alguma empresas em particular , pessoas ou coisas.
    Espere tudo de seus objetivos e metas : Trabalhe para superar suas limitações.
    busque cada degrau do aprendizado aplicando para si mesmo as metodologias na prática do convívio.
    No final das contas o que realmente importa : Desenvolver habilidades sobrevivência assim como um caçador perdido na selva.








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    1. Também cometi muitos erros mas a vida é assim. Isso que você falou de selecionar as amizades pelo perfil psicológico e intelectual é um grande conselho. Tenho me poupado de muitos problemas com isso.

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  3. Cara, que gerente escroto. Espero que ele tenha passado uns bons perrengues depois que você saiu fora.

    Segue um artigo bem legal que reforça sua teoria:
    https://medium.com/brasil/como-as-escolas-transformam-criancas-em-adultos-mediocres-d405498a8309

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    1. Estou convicto disso! Só arrancando a esquerda do poder as gerações futuras do Brasil terão alguma chance.
      Um abraço.

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  4. Cara.... eu estou refletindo minha vida ao longo dos meses. sou funcionário público e advogado. Não tenho visto perspectivas nos 2 lados da moeda. Vejo burocracia, esqueminhas de comissionados, apadrinhamentos, malandragens e tudo mais. Percebi que a única maneira de nos livrar desse aprisionamento é EMPREENDENDO. Penso dia após noite em pedir licença do meu serviço após ter um bom capital, estudar a fundo sobre produtos ou serviços que poderia dar certo e arriscar montar algo após muitas pesquisas. O que pensa a respeito disso?

    Amon Ra

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    1. Acho interessante pois admiro empresários, mas se você sabe que o sistema corporativista/fascista é corrupto deve compreender que vai sofrer bastante também como empresário, não vai conseguir se livrar desse sistema burocrático e cheio de subornos e "peixada".
      A ideia de aproveitar a estabilidade para estudar e juntar capital é muito boa antes de abrir seu negócio. O Brasil vai passar por grandes problemas em breve e acho que abrir um negócio com o PT no poder é perigoso.

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  5. Você tomou uma ótima decisão, apesar de bastante difícil. É complicado trocar o certo pelo duvidoso, mas como vc bem falou, as chances de se acostumar e ficar preso ali pelo resto da vida eram grandes.
    Eu cheguei a pedir demissão do meu atual emprego, a chefia pediu pra eu reconsiderar a decisão... desisti e estou aqui, 7 anos se passaram e agora tá bem foda de sair.

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    1. Pois é amigo, tive mais algumas experiências que vou contar aqui. Não sei se foram as melhores escolhas pro momento, mas mantive esse posicionamento até agora.
      Estou postando para crescermos juntos com esses exemplos, por mais que sejam bem comuns, mas este espaço nos propicia falar com pessoas através de outra lente, a qual não temos acesso no "mundo real", e fazermos uma auto-análise através dos comentários dos outros também. Digo isso porque vi que o seu blog parece ter surgido de uma profunda auto-análise e achei bem interessante.

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  6. Tenho um pensamento parecido. Quando sinto que estou sendo explorado eu começo a cagar pro trabalho, o difícil é quando você faz amizade com os colegas de trabalho.
    Diferente de você no último emprego fui abarcando cada vez mais serviço por incompetência é preguiça de um dos 3 chefes que eu tinha.
    Ninguém manda ele embora porquê puxa saco do chefões do local.
    Ninguém gosta dele, nem a família, as férias do maldito era para ser as nossas férias, mesmo assim o infeliz aparecia pelo 3 vezes por semana para fazer média com os chefões e dizer que gritar para os quatro ventos o quanto era poderoso e importante (só mais um pião diplomado).
    Se tivesse um chimpanzé sentando no lugar dele faria um serviço melhor.
    O pior é que tudo que passa pela gerência tem que ter o crivo dele. Tinha que fazer coisas mesmo que eu me ferrasse com outros dois chefes, depois ele ia lá nos chefões pra ferrar também com eles. Ainda por cima tinha que mandar em uma porrada de piões e fazer o serviço dos funças. Isso tudo por 2k. O quê que eu fiz? Pedi demissão, minha saúde primeiro, ninguém da empresa quis meu cargo, pois já sabiam o que esperavam, todo o estado sabe da fama de fdp dele, então só apareceu uma morta de fome nos últimos 10 dias do meu aviso prévio para passar o serviço.
    Aquisição perfeita para eles, enrolada e burra. Passei só o serviço que ela foi contratada pra fazer, os funças que voltassem a fazer seus respectivos trabalhos.
    Como qualquer outro chimpa, o maldito que falava tudo quanto palavrão comigo, era uma moça os erros e burradas da chimpa.
    Na minha mente eu só passava que em pouco tempo eu estaria livre daquele inferno.

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    1. Essa competição absurda entre pessoas na mesma empresa instaura um clima insuportável. Sabe o que é isso? Falta de comando.
      Esses idiotas que gritam e enchem o saco são umas mocinhas na frente de algum superior hierárquico. Bundões.

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